Grávida do terceiro filho, a engenheira agrônoma Renata Depra, 35,
pintou a frase "quero parir em paz" na barriga e partiu para a praia de
Ipanema junto de outras 200 pessoas que participaram no domingo à
tarde do dia 05/08/2012, da Marcha pela Humanização do Parto.
Organizada por um grupo de mulheres a favor do direito da gestante de
escolher onde e como quer fazer o parto, a marcha comemora a derrubada
de duas resoluções do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro
(Cremerj) que proibiam grávidas de contar com a ajuda de parteiras e
doulas em hospitais e maternidades e ameaçavam de punição os médicos que
acompanhassem partos domiciliares ou dessem retaguarda a mulheres que
precisassem ser removidas do parto em casa para o hospital. As
resoluções foram derrubadas no último dia 30 por uma ação civil pública
do Conselho Estadual de Enfermagem.
"Não estamos dizendo que todas as mulheres têm que parir em casa",
explicou Ellen Paes, uma das organizadoras do evento. "Queremos a
humanização do parto, que respeitem o nosso direito de escolher".
Segundo Ellen, 98% dos partos no Brasil acontecem em hospitais com uma
taxa de mortalidade de 58 por 100 mil, bem acima dos 20 por 100 mil
recomendados pela Organização Mundial de Saúde. "A mortalidade materna é
impulsionada pelas mortes em hospitais, não pelos partos em casa. Se
querem a nossa segurança, porque não deixar que os médicos acompanhem os
partos domiciliares?", questiona.
Ao lado da filha Dandara, 5, que carregava um cartaz com os dizeres "eu
vi meu irmão nascer", Renata contou que teve seu primeiro filho no
hospital onde foi obrigada a fazer uma cesariana contra a sua vontade,
fato comum, segundo os organizadores do evento. "Estava programada para
ter um parto normal, mas na hora a médica não quis esperar e disse que
iria fazer a cesária", explicou Renata que teve o segundo filho em casa e
pretende repetir a experiência. "Não me respeitaram, demorei a ver a
minha filha".
Enfermeira obstetra, Heloísa Lena puxava palavras de ordem à frente da
marcha. Em 21 anos ela já realizou 402 partos em casa, sendo que apenas
33 gestantes tiveram que ser removidas para o hospital. "O Brasil tem 60
mil parteiras, no mundo inteiro se faz isso. O parto é um evento
fisiológico, não médico. Segurança é deixar o corpo trabalhar", afirma
Heloísa.
A marcha contou ainda com a participação do médico Jorge Kuhn,
coordenador do departamento de obstetrícia da Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp). Ele ficou conhecido após ser processado pelo
Cremerj por desvio de conduta por defender em entrevista ao Fantástico, da Rede Globo,
a tese de que as mulheres com uma gravidez tranquila e sem histórico de
doenças como diabetes e hipertensão podem dar à luz em casa, sem a
necessidade de correr para a maternidade. "A taxa de mortalidade nos
partos domiciliares e nos realizados em hospitais é a mesma, em torno de
1,5%", afirma Kuhn, citando um estudo publicado em 2009 pelo
conceituado "British Journal of Obstetrics and Gynecology".
Ele é um dos expoentes da luta contra a chamada "indústria da
cesariana". "O parto não é um evento do médico, mas da mulher", afirma.
Segundo a organização da marcha, os médicos conveniados a planos de
saúde no Rio recebem em média R$ 370 por um parto normal, que pode durar
mais de 12h, contra cerca de R$ 350 por cesariana.
Fonte: Portal Terra
Nenhum comentário:
Postar um comentário