segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Teste mostra que vacina brasileira contra zika previne doença na gestação

Estudo desenvolvido pelo Instituto Evandro Chagas é um dos mais avançados para oferta de uma vacina contra a doença. Os testes feitos em camundongos, junto com institutos dos EUA, mostraram ainda que o vírus pode causar danos aos testículos e esterilidade

A vacina contra zika desenvolvida pelo Instituto Evandro Chagas (IEC), vinculado ao Ministério da Saúde, apresentou resultado positivo nos testes em camundongos e macacos. A aplicação de uma única dose da vacina preveniu a transmissão da doença nos animais e, durante a gestação, o contágio de seus filhotes. É um dos mais avançados estudos para a oferta de uma futura vacina contra a doença para proteger mulheres e crianças da microcefalia e outras alterações neurológicas causadas pelo vírus. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (22) pela revista Nature Communications.

Os testes pré-clínicos foram realizados simultaneamente no Instituto Nacional de Saúde (NIH), Universidade do Texas e Universidade Washington, dos Estados Unidos, todos parceiros da pesquisa. Os testes obtiveram sucesso em seu objetivo, que é impedir que o vírus zika cause microcefalia e outras alterações do sistema nervoso central tanto nos camundongos quanto nos macacos. Já os testes em humanos devem ser realizados, a partir de 2019, na Fiocruz/Biomanginhos, no Rio de Janeiro.

Do grupo controle que não tomou a vacina, as fêmeas de camundongos tiveram aborto por conta da transmissão do vírus zika ou seus filhotes nasceram com microcefalia e outras alterações neurológicas.

ESTERILIDADE EM MACHOS - Além dos testes em fêmeas, foram realizados testes em camundongos machos. Um dos achados científicos inéditos é que o vírus zika pode ser capaz de causar esterilidade. A infecção nos animais reduziu consideravelmente a quantidade de espermatozoides, a mobilidade deles (ficaram praticamente imóveis) e o tamanho dos testículos (atrofia). Esses testes não foram realizados nos macacos.

No entanto, não é possível afirmar que esse efeito também se aplique aos seres humanos. O diretor do Instituto Evandro Chagas (IEC), Pedro Vasconcelos, ressalta que é preciso mais estudos para entender a dimensão deste problema. “Há uma preocupação de que esse achado evidencie que possa ocorrer um impacto similar entre os seres humanos, contudo ainda não há nenhum estudo que demonstre isso”, pontuou o diretor Pedro Vasconcelos.

A pesquisa não chegou a testar a capacidade dos animais de engravidarem fêmeas após os danos constatados nos testículos. Por isso, de acordo com o diretor do IEC, Pedro Vasconcelos, ainda não é possível apontar o impacto de esterilização nesses animais. “Estamos iniciando um novo experimento nesse sentido para verificar o impacto desta esterilidade na copulação dos animais. O que se sabe é que há uma grande quantidade de vírus na excreção do esperma, que significa que o vírus tem bastante capacidade de se replicar, causando a destruição das células que resulta em diminuição (atrofia) dos testículos e, consequentemente, a esterilidade”, concluiu o diretor do IEC.

Os testes da vacina que está sendo desenvolvida pelo IEC em parceria com os institutos norte-americanos também tiveram sucesso na proteção de animais machos. Além de demonstrar efetividade entre as fêmeas de camundongos e macacos, prevenindo a transmissão do vírus zika aos seus bebês, a vacina foi capaz de impedir danos aos testículos dos camundongos machos vacinados.

A parceria para essa pesquisa foi firmada em fevereiro de 2016 a partir de acordo internacional visando o desenvolvimento de vacina contra o vírus zika.  O Ministério da Saúde vai destinar um total de R$ 7 milhões nos próximos cinco anos (até 2021) para o desenvolvimento e produção da vacina. O imunobiológico em desenvolvimento utiliza a tecnologia de vírus vivo atenuado de apenas uma dose, já que vacina com vírus vivo são altamente capazes de estimular o sistema imunológico e proteger o organismo da infecção.

Por Amanda Mendes, da Agência Saúde
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terça-feira, 19 de setembro de 2017

Governos devem intensificar esforços para o combate às doenças crônicas

Segundo um novo relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), os governos devem intensificar os esforços para controlar as doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) e cumprir com os objetivos acordados globalmente. Isso inclui prevenir as mortes prematuras de milhões de pessoas que vivem com essas condições.
Os progressos nacionais na luta contra as DCNTs são limitados, especialmente no caso de doenças respiratórias crônicas e cardiovasculares, cânceres e diabetes – que atualmente são os maiores assassinos do mundo, tirando anualmente a vida de 15 milhões de pessoas com idade entre 30 e 70 anos.
 No entanto, o Relatório de Progresso para as doenças crônicas não-transmissíveis(Progress Monitor, em inglês) da OMS 2017 – que descreve as ações dos países para estabelecer metas, implementar políticas que abordem os quatro principais fatores de risco para as DCNT (tabaco, dieta não saudável, inatividade física e uso nocivo do álcool), compartilhados e modificáveis, e criar capacidades para reduzir e tratar essas enfermidades – mostra que o progresso em todo o mundo tem sido desigual e insuficiente.
No prefácio do “Relatório de Progresso”, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, destacou os avanços na resposta às DCNT, mas pediu novas ações. “É necessária uma ação política mais clara para lidar com restrições, incluindo a mobilização de recursos internos e externos e salvaguardando comunidades de interferências de operadores econômicos poderosos".
Relatório de Progresso fornece dados sobre 19 indicadores em todos os 194 Estados Membros da OMS. Entre eles estão a definição de metas com limite de tempo para reduzir as mortes por doenças crônicas não-transmissíveis; o desenvolvimento de políticas em todos os governos para lidar com essas enfermidades; a implementação de medidas-chave para a redução da demanda de tabaco, uso prejudicial do álcool e dietas pouco saudáveis, bem como a promoção da atividade física; e o fortalecimento dos sistemas de saúde por meio dos cuidados de atenção primária e cobertura universal de saúde.

Os principais destaques da edição de 2017 são:
  • 93 países estabeleceram metas nacionais para abordar as doenças crônicas não-transmissíveis, mais que os 59 em 2015;
  • 94 países implementaram estratégias multissetoriais operacionais para enfrentar as DCNTs, em comparação com 64 em 2015;
  • 90 países desenvolveram diretrizes para gerenciar as quatro principais doenças crônicas não-transmissíveis, contra 50 em 2015;
  • 100 países realizaram campanhas de conscientização sobre atividades físicas;
  • Seis países não alcançaram nenhum dos indicadores de progresso, em comparação com 14 em 2015. Cinco deles são africanos;
  • A Costa Rica e o Irã lideram a lista dos 10 países com melhor desempenho, cada um alcançando 15 dos 19 indicadores, seguidos do Brasil, Bulgária, Turquia e Reino Unido (cada 13); Finlândia, Noruega, Arábia Saudita e Tailândia (12).
  • Nenhum país da região da OMS na África alcançou mais de oito dos indicadores de progresso. 

Douglas Bettcher, diretor da OMS para a prevenção de DCNTs, diz que o mundo não está em um bom caminho para atingir a meta estabelecida pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): uma redução de um terço no número de mortes prematuras por essas enfermidades até 2030.

"Precisamos acelerar urgentemente o progresso nessa batalha para vencer as DCNTs", acrescentou Bettcher. "A janela de oportunidade para salvar vidas está se fechando. Isso está se manifestando diante de nossos olhos de várias formas, inclusive no crescente número de pessoas, particularmente crianças e adolescentes, que sofrem de obesidade, sobrepeso e diabetes. Se não agirmos agora para proteger as pessoas, condenaremos a juventude de hoje e do futuro a uma vida de saúde e oportunidades econômicas reduzidas".
As descobertas do Relatório de Progresso vão apoiar um relatório da OMS que será apresentado ao Secretário-Geral das Nações Unidas ainda este ano, antes da terceira reunião de alto nível da ONU sobre DCNTs, em 2018.

Nota aos editores
Os Estados Membros solicitaram à OMS, em janeiro de 2015, a produção do Relatório de Progresso para doenças crônicas não-transmissíveis. Em maio de 2015, a Organização publicou uma nota técnica detalhando os indicadores a serem utilizados. A Assembleia Mundial da Saúde reiterou, em 2016, que o relatório será usado para a elaboração de um documento para a Assembléia Geral das Nações Unidas, neste ano, sobre os esforços dos países para desenvolver respostas nacionais que abordem abordar as quatro principais DCNT.
O relatório da OMS também documenta os esforços dos países para implementar o chamado conjunto de "melhores compras" e outras intervenções que podem prevenir ou atrasar a maioria das mortes prematuras por DCNTs – aprovadas durante a Assembleia Mundial da Saúde deste ano.
Tais medidas, que são viáveis economicamente e facilmente implementáveis, incluem o aumento da tributação e da embalagem simples nos produtos derivados do tabaco; a redução do teor de sódio nos alimentos; o fornecimento de terapia medicamentosa e aconselhamento para pessoas com diabetes e hipertensão; e triagem e vacinação de meninas e mulheres para protegê-las do câncer do colo do útero.
Brasil está entre os 10 países com melhor desempenho
O Brasil é o terceiro país com melhor desempenho em termos de progresso, ficando atrás apenas da Costa Rica e do Irã. O país alcançou 13 dos 19 indicadores estabelecidos pela OMS, entre eles a implementação de medidas para a redução das dietas não saudáveis e a conscientização sobre a importância de atividades físicas.
Com uma população de 206 milhões de habitantes, o Brasil registra 928 mil mortes por doenças crônicas não-transmissíveis – 73% das mortes no país acontecem devido a essas enfermidades. O risco de morte prematura por DCNTs é de 17%.

Fonte: OPAS/OMS