Os jovens
entre 15 e 24 anos formam um dos grupos que mais preocupa as autoridades e
profissionais de saúde envolvidos com o combate à aids no Brasil. Segundo o
Ministério da Saúde, em oito anos foram registrados mais de 30 mil casos da
doença nesse grupo da população.
Se em
2004 havia 9,6 casos de aids em cada grupo de 100 mil habitantes de 15 a 24
anos, em 2013 o índice saltou para 12,7. Ao todo, 4.414 jovens foram detectados
com o vírus em 2013, enquanto em 2004 haviam sido 3.453.
Nesse
grupo, a preocupação é ainda maior com os gays. “Há uma tendência de aumento
importante entre os mais jovens de 15 a 24 anos, em particular entre meninos
jovens que fazem sexo com meninos jovens”, afirmou o ministro da Saúde, Arthur
Chioro, nesta segunda-feira 1º, Dia Mundial de Luta contra a Aids.
Para
especialistas ouvidos pela DW Brasil, entre os motivos que levam à contaminação
estão a sensação de invulnerabilidade, a discriminação, o uso de drogas, má
comunicação com esse grupo e, principalmente, o não uso da camisinha.
“Há 30
anos fazemos o mesmo tipo de mensagem e esquecemos que o jovem de hoje não é o
mesmo de 30 anos atrás, da época do surgimento da epidemia”, diz Georgiana
Braga-Orillard, diretora da Unaids no Brasil. “O jovem de hoje não viu ídolos
morrerem e não têm exemplos que tornam a epidemia de aids real.”
Para a
especialista, é também necessário falar sobre discriminação, que é um dos fatores
para a vulnerabilidade dos jovens homossexuais. “Nós temos que falar sobre
discriminação nas escolas e na TV. O papel da mídia é muito importante para
discutir mais o assunto”, afirma Braga-Orillard.
Em São
Paulo, um levantamento da Secretaria da Saúde divulgado nesta segunda-feira
confirma os dados nacionais: o número de novos casos de aids na faixa etária
entre 15 e 24 anos aumentou 21,5% nos últimos sete anos. Foram registrados 722
novos casos em 2013, enquanto que, em 2007, haviam sido 594. No mesmo período,
o número total de novos casos no Estado caiu 20%, passando para 6.830 em 2013.
De acordo
com o infectologista Francisco Aoki, do Hospital das Clínicas da Unicamp, muito
se fez em termos de prevenção, diagnóstico, tratamento, acompanhamento, distribuição
de medicamentos, entre outras políticas. Porém, devido aos bons resultados do
tratamento antirretroviral, os mais jovens têm relaxado na hora de usar a
camisinha.
“Discussão,
campanhas e informação existem aos montes. Mas, no entanto, os jovens têm tido
uma certa dose de desdém e não vêm observando a necessidade de prevenção
efetiva”, observa.
Para
Fabiano Ramos, chefe do serviço de infectologia do Hospital São Lucas, da
PUC-RS, há descaso no uso do preservativo e, ainda, o problema do uso de drogas,
que favorece a disseminação do HIV. “O uso do crack vem aumentando nas cidades
brasileiras, especialmente nas camadas mais pobres da população”, diz Ramos.
O Ministério da Saúde lançou nesta segunda-feira,
em Brasília, uma campanha voltada para o público jovem. Com o slogan#partiuteste, a ação visa informar sobre a prevenção do
vírus HIV, com material específico para a população jovem gay e também para
travestis. Nas peças publicitárias, é destacada a importância de se iniciar o
tratamento logo depois de um resultado positivo.
O
Ministério da Saúde divulgou ainda que, entre janeiro e outubro, o número de
pacientes que iniciaram tratamento com medicamentos antirretrovirais no SUS
passou de 61 mil – número 29% maior do que no mesmo período do ano passado, quando
47.506 pessoas iniciaram esse tratamento.
O aumento
se deve à mudança de protocolo para a oferta do medicamento: em dezembro de
2013, o ministério estendeu o tratamento a todos infectados pelo HIV,
independentemente do estágio da doença e da contagem das células de defesa CD4.
De acordo
com o ministério, 734 mil pessoas vivem com aids no Brasil, sendo que, desse
total, 589 mil sabem que têm a doença. O ministério afirma que a epidemia está
estabilizada no país e que, a cada ano, são notificados 39 mil novos casos.
o Autoria: Fernando
Caulyt