segunda-feira, 27 de junho de 2016

Brasil e EUA irão realizar estudo com grávidas em países com Zika

O objetivo é verificar se essas mulheres foram infectadas pelo vírus durante a gestação e as consequências para os fetos. Ao todo, 10 mil grávidas serão acompanhadas em diversos países
O Brasil e os Estados Unidos deram início a um estudo internacional para avaliação dos riscos que o vírus Zika pode gerar para a saúde de gestantes e dos fetos. A análise será conduzida pelo Ministério da Saúde do Brasil, por meio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a agência governamental do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos. Ao todo, 10 mil mulheres grávidas serão acompanhadas em diversos países onde há circulação do vírus, sendo quatro mil brasileiras. O trabalho já teve início em Porto Rico, no Caribe, e no Brasil deverá começar nos próximos dois meses (julho e agosto).
O estudo tem como objetivo acompanhar a gestação de mulheres que, inicialmente, não estão infectadas pelo Zika. A partir desse acompanhamento, os especialistas irão comparar os resultados das mães que forem infectadas durante a gestação, e também das que não forem infectadas pelo vírus. A ideia é verificar as consequências dessa infecção para os fetos, nos casos positivos. Depois do parto, os bebês serão monitorados durante um ano. Participarão do estudo mulheres com idade acima de 15 anos de idade, que serão acompanhadas a partir do primeiro trimestre de gravidez. No Brasil, o trabalho será realizado com moradoras dos municípios do Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Recife (PE) e Ribeirão Preto (SP).
Além do Brasil e Porto Rico, serão monitoradas gestantes da Colômbia, além de outras regiões onde há circulação do Zika. O acompanhamento será realizado mensalmente durante o pré-natal, além de exames que serão realizados semanalmente, por até seis semanas após o parto. Além de exames físicos, as grávidas terão amostras de sangue, urina, saliva e secreções vaginais coletadas. Os recém-nascidos serão avaliados 48 horas após o nascimento, e novamente aos três, seis, nove e 12 meses.
A análise será feita pela comparação dos resultados das gestações entre mães infectadas e não infectadas por Zika. Todas as informações relatadas durante o estudo serão documentadas, como a frequência de abortos espontâneos, nascimentos prematuros, ocorrência de microcefalia, malformações do sistema nervoso e outras complicações. O estudo também vai comparar o risco de complicações na gravidez entre mulheres que tiveram sintomas de infecção por Zika e aquelas que foram infectadas, mas não apresentaram sintomas. Além disso, avaliará as alterações causadas pela infecção em embriões e fetos, e a forma com que outros fatores podem interferir, como determinantes sociais, ambientais e a ocorrência de outras infecções, como casos prévios de dengue.
No Brasil, além da Fiocruz, outras instituições estarão envolvidas, como os Institutos Nacionais da Saúde (NIH).
Por Camila Bogaz, da Agência Saúde
(61) 3315.3580 / 3435

terça-feira, 21 de junho de 2016

Projeto Família Grávida orienta gestantes durante o pré-natal no Hospital Maternidade Maria Amélia

20/06/2016 15:35:00  » Autor: Anna Beatriz Cunha / Fotos: Ricardo Cassiano

O hall do setor ambulatorial do Hospital Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda, no Centro do Rio, é transformado às quartas-feiras em um espaço de discussão multiprofissional para grávidas e seus familiares. Enquanto aguardam atendimento das consultas do pré-natal, as gestantes participam do projeto Família Grávida, que transmite informações sobre os principais assuntos relacionados à gravidez, ao parto, ao puerpério e ao bebê.


A enfermeira e coordenadora do Laboratório, Admissão e Alojamento Conjunto, Michele Mendes, explicou que o Família Grávida é um espaço de discussão e esclarecimentos de dúvidas importante durante a gravidez:

- A ideia do projeto surgiu da percepção do tempo de espera do atendimento. A ideia era colocar alguma atividade para passar o tempo mais rápido. O objetivo é alcançar toda a família: pai, avó, tio, filho, sem limitação de acompanhantes, em um espaço aberto de perguntas e esclarecimento de dúvidas. Quando as gestantes têm informações sobre determinados assuntos, elas se sentem mais seguras na hora de certos procedimentos.

Desde que foi criado em 2014, o projeto já atendeu mais de 800 gestantes e seus acompanhantes, como o casal Valéria Passos, 25 anos, e Rodrigo de Souza, de 28. Enquanto aguardavam para o pré-natal do quarto filho, eles observavam atentamente a palestra do Serviço de Epidemiologia sobre a importância das vacinas nas gestantes e nos recém-nascidos.


- Gostei muito das explicações que recebemos aqui. Por mais que seja o quarto filho, sempre temos algo a aprender. Ainda mais nesse momento preocupante de zika e da gripe H1N1. É sempre bom estarmos relembrando de todos os cuidados que precisamos. É importante para a saúde da mãe e do bebê também – disse Valéria.

A ideia do projeto é fazer com que as gestantes se sintam acolhidas, com ações de prevenção e promoção em saúde, com foco na qualidade de vida da família que espera um bebê. Semanalmente, equipes de diversas especialidades assistenciais da maternidade, tais como Enfermagem, Obstetrícia, Pediatria, Anestesia, Nutrição, Psicologia, Serviço Social, Epidemiologia, Fisioterapia e Fonoaudiologia são incumbidas de promover palestras no local.

Responsável pela palestra de imunização do Serviço de Epidemiologia, a enfermeira Mercedes Neto explica que a ideia do Família Grávida é levar o máximo de informação às grávidas e seus familiares:

- Trabalhamos sempre com a temática da prevenção. Como o público é do pré-natal, levamos mais informações sobre as doenças preocupantes para as gestantes e a importância da imunização. Prezamos muito o acesso à informação. O projeto é uma ação que faz parte das nossas competências, que é educação e saúde.

Ao final de cada encontro, é realizado um sorteio com as participantes para a entrega de um brinde. No encontro sobre a importância das vacinas, a contemplada foi Nayara Dutra, de 20 anos, grávida de 9 meses do primeiro filho, que ganhou um kit com sabonetes.


- Estou fazendo todo o meu pré-natal aqui e gostando muito. Essa ideia de ocupar nosso tempo enquanto esperamos para a consulta médica é fantástica. Nada mais tedioso do que um consultório médico e essa forma de ocupar nosso tempo com informação é muito bem recebida. Como marinheira de primeira viagem, é sempre bom adquirir informações para mim e para minha filha – destacou Nayara, na companhia do marido Maurício de Oliveira, de 27 anos.

Inaugurado em maio de 2012, o Hospital Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda, que é referência na realização de parto humanizado, completou quatro anos com a marca de mais de 18 mil partos realizados na unidade. Só no ano passado, 5.400 bebês chegaram ao mundo na maternidade.

A maternidade, que fica na Rua Moncorvo Filho, 67, integra a rede do Programa Cegonha Carioca, projeto pioneiro implantado em 2011, que tem como objetivo humanizar e garantir o melhor cuidado para mãe e para o bebê – desde o pré-natal até o parto, para reduzir a mortalidade materno-infantil e incentivar a realização de exames pré-natal.


segunda-feira, 13 de junho de 2016

SUS oferece tratamento para quem deseja parar de fumar

cigarronoDepois de 22 anos como tabagista, a garçonete Eliete Alves da Costa Barros, 46 anos, decidiu que era hora de parar de fumar.
“Foi há 09 anos atrás que eu vi meu marido doente com problema no coração e decidi que era preciso tomar uma atitude. Fumar em casa estava prejudicando ele também.  Na época eu fumava duas cartelas e meia de cigarros todos os dias. Eu sentia muito cansaço e era um pigarro na garganta o tempo todo”, conta.
Quem fuma pode ficar dependente da nicotina, substância  tóxica presente no tabaco que provoca uma série de doenças graves e fatais, como vários tipos câncer e complicações cardiorrespiratórias.Essa dependência química causada pela nicotina do cigarro e outros produtos como cachimbo, charutos, narguilé e outros é reconhecida como doença pela Organização Mundial da Saúde desde 1997.  Além da nicotina, o alcatrão e o monóxido de carbono também são exemplos das cerca de 4.720 substâncias tóxicas existentes na fumaça do cigarro que trazem risco à saúde.
O tabagismo ainda pode provocar o desenvolvimento de outras complicações, como tuberculose, úlcera gastrintestinal, impotência sexual, infertilidade em mulheres e homens, osteoporose e catarata.
Tratamento
No Brasil, existe desde 2004 um tratamento para ajudar as pessoas que querem parar de fumar, mas não conseguem. O tratamento é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nas Unidades Básicas de Saúde e nos Hospitais. Foi com esse apoio do SUS que  Eliete colocou em prática a vontade que tinha de deixar o vício:

“Sempre digo que exige muita força de vontade de quem fuma, mas o empenho do pessoal do posto médico foi fundamental. Eles insistiram comigo e isso fez diferença. Eu comecei o primeiro tratamento, não dei conta e desisti. Na segunda vez só que consegui. Ia aos grupos toda semana e tomei o medicamento durante pouco tempo”, explica a garçonete.
O tratamento completo disponível no SUS envolve métodos que vão desde o aconselhamento até o uso de medicamentos. O tabagista terá acesso a informações, reuniões de apoio, consultas para acompanhamento da saúde e acompanhamento psicológico, se necessário. Caso haja a indicação de apoio medicamentoso, está disponível a terapia de reposição de nicotina, goma de mascar, pastilha e cloridrato de bupropiona. O uso de medicamentos é um recurso adicional no tratamento e deve ser usado, se possível, juntamente com os serviços de apoio, embora eficazes se administradas separadamente. O uso desses medicamentos pode dobrar as chances de um fumante parar de fumar, mas só devem ser usados com acompanhamento profissional.
As informações sobre os locais de atendimento e horários disponíveis de tratamento podem ser encontradas nas unidades de atenção básica e nos hospitais próximos de casa ou do trabalho. O Disque Saúde no número 136 também oferece informações sobre como parar de fumar.
Decisão
O primeiro passo para abandonar o tabagismo é decidir, de forma concreta, quando será o primeiro dia sem cigarro. É importante fazer dessa data uma ocasião especial, com uma programação agradável para conseguir se distrair e relaxar.  Evite tomar essa decisão em situações que, no geral, possam induzir naturalmente a fumar , como uma festa com os amigos fumantes ou situações onde estará estressado ou ansioso.
“Eu ia nas reuniões, me informava, buscava ir ao médico pra ver como estava a minha saúde. Um conselho que dou pra qualquer pessoa que queira parar de fumar é que tenham força de vontade! Busquem apoio, ajuda, para ter forças”, reforça Eliete. 
 
 Para mais informações sobre Como Deixar de Fumar acesse:
http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/acoes_programas/site/home/nobrasil/programa-nacional-controle-tabagismo/tratamento-do-tabagismo
Gabi Kopko, para o Blog da Saúde

quarta-feira, 8 de junho de 2016

08/06 - Reunião Científica Enfermagem Obstétrica UFRJ na MMABH


Hoje o Serviço de Epidemiologia da MMABH participou da Reunião Científica das Residentes de Enfermagem Obstétrica da UFRJ, com discussão sobre imunização em gestantes e puérperas. O diálogo foi direcionado para os benefícios do calendário de vacinação proposto pelo MS para as gestantes e o feto, e porque estas vacinas são utilizadas pelo serviço.



sexta-feira, 3 de junho de 2016

Ministério da Saúde confirma 1.489 casos de microcefalia no país

Desde o início das investigações, em outubro de 2015, foram notificados 7.723 casos suspeitos, sendo que 3.072 foram descartados e 3.162 permanecem em investigação 
O novo informe epidemiológico divulgado, nesta quarta-feira (1º), pelo Ministério da Saúde confirma 1.489 casos de microcefalia e outras alterações do sistema nervoso, sugestivos de infecção congênita em todo o país. O novo boletim é referente à semana epidemiológico nº 20, que corresponde até o dia 28 de maio. O Informe reúne informações encaminhadas semanalmente pelas secretarias estaduais de saúde.
No total, foram notificados 7.723 casos suspeitos desde o início das investigações, em outubro de 2015, sendo que 3.162 permanecem em investigação. Outros 3.072 foram descartados por apresentarem exames normais, ou por apresentarem microcefalia e ou malformações confirmadas por causa não infecciosas ou não se enquadrarem na definição de caso.

Os 1.489 casos confirmados em todo o Brasil ocorreram em 539 municípios, localizados em 25 unidades da federação. Desses casos, 223 tiveram confirmação por critério laboratorial específico para o vírus Zika. O Ministério da Saúde, no entanto, ressalta que esse dado não representa, adequadamente, a totalidade do número de casos relacionados ao vírus. A pasta considera que houve infecção pelo Zika na maior parte das mães que tiveram bebês com diagnóstico final de microcefalia.

Em relação aos óbitos, no mesmo período, foram registrados 294 óbitos suspeitos de microcefalia e/ou alteração do sistema nervoso central após o parto ou durante a gestação (abortamento ou natimorto) no país. Destes, 63 foram confirmados para microcefalia e/ou alteração do sistema nervoso central. Outros 192 continuam em investigação e 39 foram descartados.

O Ministério da Saúde ressalta que está investigando todos os casos de microcefalia e outras alterações do sistema nervoso central, informados pelos estados, e a possível relação com o vírus Zika e outras infecções congênitas. A microcefalia pode ter como causa, diversos agentes infecciosos além do Zika, como Sífilis, Toxoplasmose, Outros Agentes Infecciosos, Rubéola, Citomegalovírus e Herpes Viral. 

A pasta orienta as gestantes adotarem medidas que possam reduzir a presença do mosquito Aedes aegypti, com a eliminação de criadouros, e proteger-se da exposição de mosquitos, como manter portas e janelas fechadas ou teladas, usar calça e camisa de manga comprida e utilizar repelentes permitidos para gestantes.

Distribuição dos casos notificados de microcefalia por UF, até 28 de maio de 2016


Regiões e Unidades Federadas
Casos de Microcefalia e/ou malformações, sugestivos de infecção congênita
Total acumulado1 de casos notificados de 2015 a 2016
Em investigação
Confirmados2,3
Descartados4
Brasil
3.162
1.489
3.072
7.723
Alagoas
63
72
165
300
Bahia
647
249
211
1.107
Ceará
186
110
194
490
Maranhão
80
126
55
261
Paraíba
311
129
442
882
Pernambuco
491
358
1.133
1.982
Piauí
11
85
71
167
Rio Grande do Norte
253
113
62
428
Sergipe
114
77
43
234
Região Nordeste
2.156
1.319
2.376
5.851
Espírito Santo
88
12
49
149
Minas Gerais
54
3
55
112
Rio de Janeiro
275
64
116
455
São Paulo
198a
8b
123
329
Região Sudeste
615
87
343
1.045
Acre
21
0
17
38
Amapá
2
8
1
11
Amazonas
11
4
5
20
Pará
29
1
0
30
Rondônia
4
4
7
15
Roraima
9
8
7
24
Tocantins
93
11
33
137
Região Norte
169
36
70
275
Distrito Federal
4
5
35
44
Goiás
63
14
59
136
Mato Grosso
118
16
93
227
Mato Grosso do Sul
2
2
14
18
Região Centro-Oeste
187
37
201
425
Paraná
6
4
27
37
Santa Catarina
1
1
5
7
Rio Grande do Sul
28
5
50
83
Região Sul
35
10
82
127
Fonte: Secretarias de Saúde dos Estados e Distrito Federal (dados atualizados até 28/05/2016).

1. Número cumulativo de casos notificados que preenchiam a definição de caso operacional anterior (33 cm), além das definições adotadas no Protocolo de Vigilância (a partir de 09/12/2015) que definiu o Perímetro Cefálico de 32 cm para recém-nascidos com 37 ou mais semanas de gestação e demais definições do protocolo. 
2. Apresentam alterações típicas: indicativas de infecção congênita, como calcificações intracranianas, dilatação dos ventrículos cerebrais ou alterações de fossa posterior entre outros sinais clínicos observados por qualquer método de imagem ou identificação do vírus Zika em testes laboratoriais. 
3. Foram confirmados 223 casos por critério laboratorial específico para vírus Zika (técnica de PCR e sorologia). 
4. Descartados por apresentar exames normais, por apresentar microcefalia e/ou malformações congênitas confirmada por causas não infecciosas ou por não se enquadrar nas definições de casos.

a)    Conforme informado pelo Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”, da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo 198 casos se encontram em investigação para infecção congênita. Desses, 39 são possivelmente associados com a infecção pelo vírus Zika, porém ainda não foram finalizadas as investigações.
b)    01 caso confirmado de microcefalia por Vírus Zika em recém-nascido com local provável de infecção em outra UF.

Da Agência Saúde
Atendimento à imprensa
(61) 3315-3580 / 2351

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Estudo busca aprimorar vacina contra febre amarela

16 03 31 febreamarela destaque
Reconhecida pela sua eficácia, a vacina contra a febre amarela é produzida com a mesma tecnologia desde 1937: vírus atenuados são inoculados em embriões de galinha e, após se multiplicarem, são usados no imunizante. O processo de replicação viral permaneceu uma incógnita durante décadas. Foi investigando essa etapa que um grupo liderado por cientistas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) descobriu informações que podem ajudar a aprimorar o imunizante no futuro. Em um estudo publicado na revista científica internacionalPlos Neglected Tropical Diseases, os pesquisadores descrevem, pela primeira vez, quais tecidos e células dos embriões de galinha são responsáveis pela replicação do vírus. As descobertas podem contribuir para o aperfeiçoamento do método de fabricação da vacina, o que poderia substituir o uso de embriões de galinha por um sistema de cultura de células. Desta forma, a imunização poderia deixar de ser contraindicada para as pessoas com alergia grave a proteínas de ovo. Além disso, a mudança também representaria um avanço ético no que se refere ao uso de animais, na medida em que permitiria reduzir o emprego de embriões de galinha no processo de fabricação do imunizante.
Primeiro autor do artigo, o biólogo Pedro Paulo de Abreu Manso, do Laboratório de Patologia do IOC/Fiocruz, diz que os resultados são surpreendentes. “Em pacientes, o fígado é um dos principais órgãos acometidos nos casos de febre amarela grave. No entanto, nos embriões de galinha, este órgão não é afetado. Por outro lado, neste trabalho observamos que os vírus são produzidos principalmente nas células musculares esqueléticas, o que nunca tinha sido mostrado antes”, comenta o pesquisador. Na medida em que identifica os tecidos responsáveis pela replicação das partículas virais nos embriões de galinha, o artigo aponta um possível caminho para a produção da vacina em cultura de células. Segundo os cientistas, tentativas anteriores neste sentido não obtiveram sucesso na produção do imunizante. “Ainda são necessários muitos testes, mas utilizar células musculares, que são as principais células envolvidas na produção do vírus in vivo, pode aumentar as chances de sucesso na produção da vacina em sistema de cultura”, avalia Pedro Paulo.

Refutações e confirmações - Os resultados inesperados da pesquisa levaram os cientistas a questionar alguns mecanismos da doença. Por exemplo, a presença dos vírus nas células musculares poderia justificar um dos sintomas iniciais do agravo: a dor muscular, que geralmente é atribuída à resposta imune do organismo contra a infecção. “Assim como ocorre nos embriões de galinha, os patógenos podem afetar diretamente os músculos dos pacientes. Isso nunca foi investigado na febre amarela, mas já foi mostrado na infecção por chikungunya, que é causada por um vírus de uma família próxima”, afirma Pedro Paulo. Da mesma forma, a evolução da doença no fígado pode ter explicações diferentes das conhecidas até agora. Segundo as teorias atuais, células especializadas chamadas de células de Kupffer exerceriam um papel protetor, retardando a infecção das células mais importantes do órgão, conhecidas como hepatócitos. O estudo aponta justamente o contrário. Como no estudo foi usada uma fase do desenvolvimento em que os embriões de galinha ainda não possuem células de Kupffer e, mesmo assim, o fígado não foi afetado pelo vírus, os pesquisadores suspeitam que estas células possam atuar como um facilitador da propagação do patógeno no fígado.
Ao mesmo tempo em que alguns conhecimentos atuais foram questionados, outros foram reforçados. A produção de imagens inéditas confirmou a localização exata dos vírus da febre amarela nas células dos embriões de galinha. Usando uma técnica de microscopia de super-resolução, os pesquisadores mostram que as partículas virais são encontradas em uma organela celular chamada de retículo endoplasmático e em compartimentos conhecidos como vesículas de exocitose. De acordo com Pedro Paulo, as imagens ajudam a consolidar o conhecimento já existente sobre o ciclo da infecção dentro das células.
Conhecimento de interesse para o Brasil - O trabalho foi desenvolvido por pesquisadores dos Laboratórios de Patologia e de Biologia Molecular de Flavivírus do IOC/Fiocruz com a colaboração do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz). Para os autores, encontrar formas de melhorar a vacina contra a febre amarela pode ser ainda mais importante no futuro. No ano passado, uma tecnologia criada por cientistas do IOC/Fiocruz e de Bio-Manguinhos/Fiocruz que permite usar este imunizante como base para elaborar vacinas contra diversas doenças recebeu a patente nos Estados Unidos. Atualmente, a metodologia é aplicada na busca de possíveis vacinas contra a Aids e a doença de Chagas. Além disso, as descobertas recentes podem ajudar a aperfeiçoar um produto de destaque no portfólio brasileiro de imunizantes: responsável pela produção da vacina contra a febre amarela desde 1937, Bio-Manguinhos/Fiocruz é o maior fabricante mundial e o único da América Latina certificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O estudo da febre amarela também está na origem do Laboratório de Patologia do IOC/Fiocruz. A unidade é responsável pela Coleção de Febre Amarela, que reúne amostras de 498 mil casos da doença. Conservadas em formol, em blocos de parafina e em cortes histológicos corados em lâminas, as amostras de fígado de pacientes que morreram devido à infecção foram coletadas entre 1930 e 1970. Entre diversas contribuições para a ciência e a saúde, o estudo do material ajudou no mapeamento dos casos e na erradicação da forma urbana da febre amarela no Brasil alcançada entre 1933 e 1934.
Uma doença complexa - Por possuir um ciclo silvestre, a febre amarela é uma doença de difícil eliminação. Em áreas de floresta, mosquitos Haemogogus contraem o vírus causador da infecção ao sugar o sangue de macacos doentes e podem transmitir o patógeno para viajantes e pessoas que vivem nas imediações. No Brasil, a forma urbana do agravo foi eliminada em 1942, após epidemias que deixaram milhares de mortos no século XIX e no começo do século XX. No entanto, o risco de reintrodução é uma preocupação constante porque mosquitos do gênero Aedes – que já transmitem dengue, chikungunya e zika – também têm potencial de propagar a febre amarela.
Principal forma de prevenção, a vacina contra a doença faz parte do calendário nacional de imunizações em todas as áreas com risco de transmissão, o que inclui as regiões Norte e Centro-Oeste, além de trechos do Nordeste, Sul e Sudeste. Nestes locais, a primeira dose deve ser aplicada aos noves meses e a segunda, aos 4 anos. Quem nunca foi imunizado e pretende viajar para áreas com transmissão da doença deve consultar o site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para verificar a necessidade de imunização, que deve ser feita dez dias antes da data da viagem para garantir a proteção.
A maioria das pessoas que contrai febre amarela se recupera após três ou quatro dias, mas 15% dos pacientes desenvolvem formas graves, que podem levar à morte em 50% dos casos. Segundo o Ministério da Saúde, de 1999 a 2013, houve 405 registros de febre amarela grave no Brasil, com 182 óbitos. Os principais sintomas da infecção são febre alta, calafrios, dor de cabeça e dor muscular. Além disso, podem ocorrer náuseas, vômitos e diarreia. Nos casos graves, o fígado e os rins são afetados. Os pacientes apresentam olhos amarelados e sinais hemorrágicos, como sangramentos do nariz e gengivas. Uma vez que os sintomas iniciais da infecção se parecem com os de várias outras doenças, é importante que os pacientes relatem aos médicos seus históricos de viagem. Não existe tratamento específico para a febre amarela, mas os pacientes diagnosticados recebem terapia para controlar a desidratação e outros sintomas, como febre e dor.
Fonte: Maíra Menezes (IOC/Fiocruz)